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Algumas Ideias Culturais para o Pelourinho


 

 Antonio Albino Canelas Rubim *
 

Todos nós sabemos do lugar vital que o Pelourinho ocupa na cultura baiana e brasileira. Centro histórico da cidade do Salvador e ícone da cultura afro-baiana, o Pelourinho se tornou, na contemporaneidade, o nosso cartão postal de maior visibilidade. Não por acaso, todos que vêm a Salvador desejam visitar o Pelourinho. Com a proximidade das copas das confederações (2013) e do mundo (2014), esta visibilidade nacional e internacional será enormemente ampliada. Assim, mais do que nunca cabe cuidar bem de nosso patrimônio cultural da humanidade.

A Secretaria de Cultura da Bahia tem dado grande atenção ao Pelourinho. A atual localização da Secretaria e de suas instituições vinculadas, como Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB) e Centro de Culturas Populares e Identitárias, já indica esta relação. A construção, articulada pela Secretaria, do Plano de Reabilitação Participativo do Centro Antigo de Salvador aponta igualmente nesta perspectiva. O conjunto de atividades desenvolvidas, em especial através do Pelourinho Cultural, também demonstram a fina sintonia existente. A esta atuação cabe agregar novas possibilidades que visem animar e aprimorar a vida cultural do Pelourinho.

A atração e instalação de novas instituições e centros culturais para o centro histórico, por certo, é uma das medidas mais   adequadas e de maior potencial para desenvolver o ambiente cultural, pois a movimentação contínua de pessoas, atrações e recursos propiciada por estas organizações  amplificará em muito a dinâmica daquela região da cidade. O Pelourinho, cada vez deve ser um lugar cultural de projeção nacional e internacional.

A organização de calendário anual de festas periódicas se apresenta como outra    medida apropriada para dinamizar o Pelourinho. O carnaval, o festival do Olodum, as festas juninas e o natal fazem parte deste possível calendário de atividades periódicas. A festa carnavalesca do Pelourinho, de responsabilidade da Secretaria Estadual de Cultura, vem se afirmando como um carnaval da diversidade, pois seus diferentes largos e praças comportam estilos musicais e atrações bem variadas, contemplando públicos e gostos bastante diferenciados. Não é casual que ela seja a preferida dos turistas estrangeiros e cada vez mais acolha foliões da terra.

O festival de artes do Olodum já aparece como uma tradição do Pelourinho. Ele aglutina um conjunto de manifestações relevantes da cultura afro-baiana, que tem no Pelourinho e no Olodum, dois de seus    maiores expoentes. O umbilical enlace do  Pelourinho com a cultura afro-baiana configura mesmo sua singular identidade. 

As festas juninas - Santo Antônio, São João e São Pedro - têm produzido momentos de boa animação no Pelourinho, que pode funcionar como uma bela cidade cenográfica para tais festejos. O natal aparece como  outra festa potencial de ser bem concebida para este território especial da cidade. Suas ruas e casarios parecem propícios para abrigar decorações, presépios, corais, autos de rua inovadores e muitas iniciativas que atraiam a população.

Outras comemorações, festas e festivais devem ser imaginados para complementar este calendário anual que dê vida continuada ao Pelourinho. Como possibilidades    podem ser enumeradas: o festival literário (Flipelô), pensado pela Casa de Jorge     Amado para o próximo ano como parte das    comemorações do Ano Jorge Amado; um festival cultural da diáspora africana no mundo; feiras de artesanato e de antiguidades, bem como encontros e seminários. A concepção e atração de eventos deve ser uma constante em uma política de dinamização cultural do Pelourinho.

A estas festas, que envolvem períodos mais amplos, devem ser agregadas outras atividades mais eventuais, mas de grande impacto, tais como a festa de Santa Bárbara e o cortejo do Dois de Julho, alusivo a independência do Brasil na Bahia. Além deles, cabe destacar os acontecimentos realizados cotidianamente nas áreas de: música, teatro, dança, culturas populares, cinema, artes visuais, literatura, livros, debates etc.           

Instalações de residências artístico-      culturais e de instituição público-privada, voltadas para o carnaval baiano, emergem   neste cardápio de ideias. O carnaval da Bahia, por sua envergadura, requer e comporta a construção de uma "refinaria" do carnaval que, através de recursos tecnológicos avançados, documente a festa e mostre interativamente músicas, imagens, depoimentos, histórias, fantasias e possibilite estudos, pesquisas e o debate do carnaval, inclusive em seminários internacionais sobre os carnavais do mundo.     

O recurso às tecnologias informáticas deve garantir o Pelourinho como uma zona livre para a utilização da internet, visando atrair usuários e permitir a instalação de um pólo de empreendimentos de economia   criativa, sintonizando as políticas de dinamização cultural com as tendências mais contemporâneas nos campos cultural, tecnológico e administrativo. O potencial criativo do Pelourinho necessita ser estimulado para que possa se renovar de modo contínuo. 

A sintonia destas ideias culturais com o maravilhoso patrimônio arquitetônico do Pelourinho requer que tais intervenções   sejam sempre imaginadas em uma dimensão humana, demasiadamente humana, adequada às experiências de convivência e congraçamento que este patrimônio pode possibilitar com seu belo casario, suas ruas e    becos, protegendo e promovendo seus recantos, cantos e encantos.     

Por óbvio, tais ideias culturais não bastam para resolver o Pelourinho. Em conjunto com elas, como indica o plano elaborado, são necessárias muitas outras medidas em  diversas áreas de políticas, em especial aquelas voltadas para a infraestrutura, a exemplo de suas dimensões: urbanas, de segurança pública, de serviços públicos, de saúde, educacionais, de desenvolvimento social e de  turismo. Mas, por certo, superado o desafio de serem colocadas em execução, tais ideias, com sua implantação, podem animar bastante o Pelourinho e sua essencial dinâmica cultural.
     

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*Professor da UFBA. Pesquisador do CNPq. Secretário de Cultura do Estado da Bahia