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Sobre o que Representar

 Fernando Guerreiro *
 

Sou um diretor à moda antiga, gosto de estudar e dirigir um bom texto. Ao longo de sua estória, o teatro viu seus palcos invadidos por diretores autores, atores autores, ou simplesmente, ausência de autores, as famosas perfomances, criações coletivas, acontecimentos teatrais, ou como se queira denominar montagens em que a palavra perde em importância para todos os outros elementos da encenação.

 

Como podemos formar platéias sem oferecer-lhe a oportunidade de entrar em contato com grandes obras dramáticas? Para mim a palavra é a essência do drama, seu elemento principal e o que o personaliza. É fundamental o desenvolvimento de novos dramaturgos, que saibam construir a base para grandes encenações. Mas para isso precisamos trazer o texto de volta aos palcos, sem firulas, sem inovações (uma ilusão que já perdi, pois sei que tudo se repete), apenas com competência e muito, muito trabalho .

 

Comecei a minha carreira no final da década de 70 e tive o prazer de ter contato com montagens de perolas da dramaturgia. De João Augusto, no Vila Velha, à saudosa Cia de Teatro da UFBA, pude assistir Sófocles, Goldoni, Pirandello, Shakespeare, Moliere, Nelson Rodrigues, Oduvaldo Viana Filho, Cleise Mendes, Nélson Araújo, Suassuna e por aí vai. E, o mais importante, em montagens que não brigavam com estes textos, não “recriavam” o que estava no papel. Sempre que converso com jovens diretores eu digo: cuidado com o que vocês vão fazer com o texto! É preciso dissecá-lo, estudá-lo a fundo, descobrir todas as suas nuances e possibilidades. Criar uma relação de respeito e não de competição. Nunca querer aparecer mais que ele, mostrar que é melhor que ele.

 

Quero começar um movimento pela volta de grandes textos ao tablado, em montagens básicas, sem firulas ou enganosas “inovações”. O teatro baiano está vivendo um momento de ressaca, poucas estréias interessantes, um excesso de pós-modernismo de um lado, um excesso de comédias rasas do outro. Vamos buscar de novo a qualidade, trazer grandes atores de volta, representando textos essenciais. Só assim podemos sair da lama em que estamos chafurdando.

 

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*Diretor Teatral
 
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente - SEDHAM
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