parecem à primeira vista. O picadinho de lotes, feito há mais de meio século, pelos vendedores do sonho da casinha de veraneio junto à praia, não corresponde mais às demandas de uma cidade com quase três milhões de habitantes, onde a casa e o carro privado não são, ou nunca foram, a solução.
Além do grave problema fundiário, a faixa compreendida entre as duas avenidas que se dirigem ao Litoral Norte não dispõe, hoje, de infra-estrutura adequada, especialmente sanitária e viária. A Avenida Paralela está saturada e a Otávio Mangabeira mais parece uma autopista que uma avenida beira mar, sem faixas de desaceleração, estacionamentos, passeios civilizados e acesso fácil à praia. Entre a Pituba e Itapoã há apenas quatro articulações entre as duas avenidas. Uma terceira via, capaz de aliviar o tráfego metropolitano em direção ao norte, é inviável.
Há questões ambientais, também, como a estreita faixa de praia sujeita a ressacas, como a que acaba de destruir barracas e trechos da própria avenida, do desaparecimento progressivo do coqueiral, que filtrava a salmora que corrói estruturas, revestimentos e o bolso dos moradores daquela área.
Para uma parte da nossa sociedade as mazelas da área se resolvem facilmente com uma palavra mágica: verticalização livre. Não é bem assim, aquele ecossistema tem seus limites de sustentabilidade. Sem estudos e simulações seus problemas podem se agravar. Verticalização, sem os devidos cuidados, significa adensamento, congestionamento de tráfego, destruição do verde, barramento do vento, aumento do barulho e do sombreamento, proliferação de barracas e quiosques.
Esta é, sem dúvida, uma área estratégica, senão a última, de desenvolvimento de Salvador. Para todos os problemas aqui apontados há soluções, mas que precisam ser estudadas, simuladas e discutidas com a comunidade. Exige, especialmente, a criação das bases para uma grande operação urbana público-privada, como as realizadas em São Paulo e outras cidades brasileiras para expansão ou implantação de linhas de metrôs. O Fórum Salvador e suas Frentes Marítimas revelou também que a par de seus problemas a área apresenta grandes possibilidades inexploradas, como a ampliação dos pequenos portos naturais, ali existentes, para incentivo à pesca e aos esportes aquáticos; alargamento da praia para evitar a fúria das ressacas, permitir mais espaço para o lazer e os esportes e viabilizar o alargamento de pistas, ciclovias e passeios, hoje muito exíguos.
A área tem a possibilidade de abrigar núcleos turísticos e de lazer competitivos em nível nacional e internacional e conjuntos habitacionais de qualidade para os diferentes estratos da nossa sociedade. Mas, para isso é necessário planejamento e lotes de terra adequados. Por isso, feitos os estudos necessários, onde for possível a verticalização este benefício deve ser condicionado a um remembramento prévio dos lotes de modo aos empreendedores poderem dispor de quadras inteiras para a implementação dessas novas funções.
Neste ponto cabe um esclarecimento. O IAB nunca foi contra o charme discreto de Ipanema e da Av. Atlântica, no Rio de Janeiro, com sua praia generosamente alargada e seus largos passeios desenhados por Burle Marx, mas sim o seu avesso, a arquitetura mesquinha das avenidas N.S. de Copacabana e Barata Ribeiro com seus apartamentos de quarto e sala e pensões de três turnos.
Ou fazemos a coisa certa ou perdemos uma grande oportunidade de desenvolver a cidade. Para equacionarmos adequadamente estas questões é necessário que juntemos forças, como estão fazendo os pernambucanos, reunindo o Município, o Estado, a União e o setor privado para realizarem o Complexo Turístico-Cultural de Recife/Olinda. A Bahia tem agora as mesmas condições políticas. Estamos certos que não faltará ao nosso Prefeito e futuro Governador a vontade política de fazer a coisa certa.
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¹ Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB/BA |